
Uma das bandas mais debatidas do pop fala ao G1 sobre o álbum "Neon bible".
"É difícil esquecer a passagem pelo Brasil", diz o baterista Jeremy Gara.
23/04/2007 - 08h58
Shin Oliva Suzuki Do G1, em São Paulo
Foto (Divulgação): O combo canadense Arcade Fire
Shin Oliva Suzuki Do G1, em São Paulo
Foto (Divulgação): O combo canadense Arcade Fire
A imagem de milhares de pessoas em coro, quando o Arcade Fire mostrou sua versão de "Aquarela do Brasil", não foi a única passagem memorável para o grupo canadense na visita ao país em 2005.
Um dos nomes mais debatidos e ousados no indie rock e no mundo pop hoje em dia, o septeto de Montreal diz ter sido fortemente inspirado por São Paulo em uma das faixas de seu segundo disco, "Neon bible", que estreou no segundo lugar da parada da "Billboard".
O baterista Jeremy Gara, em entrevista por e-mail ao G1, afirma que o cantor e líder Win Butler foi afetado pela experiência de estar confinado em um hotel de luxo (nas proximidades da marginal do rio Pinheiros) em meio à pobreza das cercanias. Disso saiu a idéia para a música "Black wave / Bad vibrations".
O grupo, cuja próxima parada é o gigante Coachella Festival, no próximo sábado (27), "precisa" voltar ao Brasil, declarou Gara.
Veja nesta terça (24) o especial sobre a cobertura do Coachella Festival, um dos maiores festivais de música pop do ano.
G1 - Imagino, com tantas pessoas envolvidas e tantos detalhes, que sessões de gravação do Arcade Fire não são tão tranqüilas. Como foi o processo no estúdio para "Neon bible"?
Jeremy Gara - A gravação deste disco começou bem devagar e um pouco diferente do passado, já que não estávamos limitados a um segundo emprego ou a qualquer tipo de pressa. Nós compramos uma igreja antiga nas cercanias de Montreal no final de 2005 e lentamente ela se tornou um estúdio. A gente gravava alguns pedaços onde podia (um órgão em Montreal, coro e orquestra em Budapeste, vocais em Nova York etc). Apesar de a banda ser grande, ela funciona surpreendentemente bem no estúdio. Win [Butler, vocalista e figura central da banda] e Régine Chassagne [multiinstrumentista e mulher de Win] já tinham a estrutura das canções em mente. Às vezes havia debate sobre qual era a melhor forma, mas nós nos demos muito bem no geral e todos ficaram extremamente felizes com o resultado do álbum.
G1 - E por que gravar em uma igreja?
Gara - Uma igreja, idealmente, é um lugar para alguma forma de espiritualidade ou contemplação, e eu acho que há algo de espiritual sobre música em si ou sobre tocar música ou dividi-la com uma platéia. Além disso, esteticamente falando, não há melhor lugar para esse tipo de performance. Há alguns clubes de rock que são bacanas, mas uma igreja é o melhor lugar para se estar, visualmente falando. Já acusticamente é uma aposta. É um desafio domar o som de uma banda de rock numa grande sala vazia, mas valeu o esforço.
G1 - Li que a música "Black wave/Bad vibrations" foi inspirada pela experiência de estar em São Paulo, mas confinado em um hotel de luxo, sem poder conhecer a cidade real. Foi isso mesmo o que ocorreu na passagem de vocês por aqui?
Gara - Bem, eu não escrevi as letras, mas eu sei que Win realmente se inspirou naquela viagem. Todos nós estávamos presos naquele gigantesco e luxuoso complexo e orientados para não sair por razões de segurança. Nós passamos por bairros realmente tristes e acabamos em um grande edifício no meio de tudo aquilo, olhando tudo de cima. Não é a melhor sensação do mundo. É como estar no meio do oceano à noite. Sem estar consciente totalmente do que se está passando, mas sabendo que é violento e maior que você. Estar em São Paulo foi uma experiência intensa. É uma das maiores cidades do mundo, mas não podíamos explorá-la. É um problema.
G1 - O crescimento do conservadorismo e da influência da religião como um todo nos Estados Unidos foi uma influência para "Neon bible"?
Gara - Não acho que o disco seja uma resposta a qualquer movimento específico, seja na religião ou na América. Mas ele é definitivamente inspirado por essas coisas de alguma forma. É apenas impossível negar como a religião é tão politizada nesse momento no mundo. E especialmente na cobertura da mídia sobre a "imagem mais ampla" do mundo como um todo. Eu acho que existe um tema por trás desse disco: religião, mídia e celebridade. Não acho que descobrimos o que tudo isso significa realmente, mas é definitivamente um tópico a ser explorado.
G1 - Após o lançamento de "Neon bible", entre tantas críticas positivas, houve também já alguns narizes torcidos. Você acha que isso pode ser saudável de alguma forma, sair um pouco da posição de unanimidade absoluta?
Gara - Saudável ou não, é assim que as coisas são. Não já jeito de alguém atingir um nível de sucesso sem ser ofendido de alguma maneira. "Ah, eu gostava da banda antes de eles gravarem uma demo!". É apenas assim. No final das contas, nós não fizemos nenhum sacrifício ou vendemos a alma para vender mais discos, então podemos dormir bem à noite. E fica por isso mesmo.
G1 - Quais são as suas recordações da turnê no Brasil, além de ter milhares de pessoas cantando "Aquarela do Brasil", de Ary Barroso, junto com a banda? E vocês vão passar pelo país nesta turnê atual?
Gara - Sinceramente, aterrissar no Rio e acordar de frente para o mar, fazer três diferentes mas maravilhosos shows em três cidades diferentes [Rio, SP e Porto Alegre] e depois tirar férias no sul do Brasil... É difícil esquecer. Nossas namoradas/esposas estavam conosco então foi realmente especial e divertido. E a parte de São Paulo [do hotel de luxo] também é difícil de esquecer. Definitivamente vamos discutir essa volta ao país como parte de nossa turnê um pouco mais para frente. Se vai ser em um festival ou apenas nós mesmos... Nós precisamos voltar. Logo, logo, logo, logo...
G1 – O G1 vai fazer a cobertura do Coachella Festival, e vocês são uma das atrações principais do evento. O que vocês estão planejando para esse show? É diferente tocar para uma multidão?
Gara - Verdade a ser dita, não muda muito. O show é mais estressante porque você tem o tempo limitado, mas nós damos duro na hora de tocar e tentamos nos conectar com qualquer pessoa que esteja prestando atenção. Nós sempre tocamos sob uma intensidade "faça-ou-morra", mesmo que seja em um clube pequeno. É apenas a excitação e a energia de um grande público em um local aberto, a maioria deles nunca nos viu antes.
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